ONU alerta: incêndios em Portugal e Espanha vão piorar qualidade do ar na Europa

A Organização Meteorológica Mundial (WMO) alertou esta sexta-feira que os incêndios florestais que devastaram Portugal e Espanha em agosto deverão ter impacto na qualidade do ar em toda a Europa. De acordo com Lorenzo Labrador, cientista-chefe da agência climática da ONU, as emissões provocadas pelos fogos não ficam restritas à Península Ibérica, podendo afetar cidades de toda a Europa Ocidental e até outras regiões do continente.
Em conferência de imprensa, o especialista explicou que os incêndios atingiram cerca de 1% da área da Península Ibérica, libertando grandes quantidades de partículas poluentes para a atmosfera. “As emissões cruzam fronteiras e agravam os níveis de poluição em países vizinhos”, sublinhou Labrador, recordando o exemplo do Canadá em 2023, cujos incêndios tiveram reflexos na qualidade do ar na Europa, atravessando o Atlântico Norte.
O boletim anual da WMO sobre qualidade do ar, que compila dados de 2024, destacou que os incêndios florestais são uma fonte permanente das partículas finas PM2,5, consideradas das mais nocivas para a saúde. Estas micropartículas, com menos de 2,5 mícrons de diâmetro, estão associadas ao aumento de doenças respiratórias, cardiovasculares e a um maior número de mortes prematuras.
O relatório também analisou a evolução da poluição em várias regiões do mundo. Verificou-se um aumento da presença de partículas finas na América do Sul, devido aos incêndios na Amazónia, bem como no Canadá, Sibéria e África Central. Em contraste, o leste da China registou melhorias significativas, resultado de medidas sistemáticas de mitigação que reduziram os níveis de poluição em cidades como Pequim.
Apesar de alguns progressos, a ONU destaca ainda a intensificação de episódios de smog no inverno em áreas densamente povoadas, como o norte da Índia. Estes fenómenos, longe de serem apenas sazonais, são um sinal claro do aumento das emissões poluentes ligadas à atividade humana. O alerta surge um dia depois da divulgação de um estudo que concluiu que as alterações climáticas aumentaram em 40 vezes o risco de ondas de calor como a que alimentou os incêndios florestais em Portugal e Espanha.







